segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Ateísmo é doença mental? Não...

Claro que não. Para mostrar como seria estúpido responder afirmativamente, dizer que o ateísmo é uma doença mental é o mesmo que dizer que ter pêlos nas orelhas (uma forma de hirsutismo) é uma doença, que os homens que têm pêlos nas orelhas são doentes porque saem da norma. O mesmo para os carecas. Não estão doentes, mas fazem parte da diversidade humana, uma vez que isso não os prejudica (e até há mulheres que gostam de carecas) nem a mais ninguém. Mas há quem tente justificar de um modo semelhante que o ateísmo é uma doença mental (1) (e o Mats apoia essa ideia):
«Isto prende-se com o facto da ciência mostrar que a mente humana está construída para a fé visto que fomos criados para acreditar. Esse é um dos motivos cruciais que faz com que os crentes sejam mais felizes; as pessoas religiosas têm todas as suas capacidades mentais intactas, e estão a funcionar de forma plena como humanos. Logo, ser um ateu – tendo em falta a vital capacidade da fé – deve ser vista como uma aflição, e uma deficiência trágica: algo análogo à cegueira.» - Ainda que isso assim fosse, por uma maioria funcionar dessa maneira, não quer dizer que tudo o que saia disso seja "doença", nem sequer que as crenças religiosas (incluindo a existência de deus) sejam verdadeiras. É por não entenderem o conceito de diversidade que os criacionistas não entendem a evolução e como tudo (incluindo a possível tendência para crenças irracionais) pode ter evoluído com base num processo semi-aleatório.
Para terminar, se ser pro-ciência e não acreditar em disparates é ser "doente mental", eu prefiro ser doente, obrigada. 

Actualização:

O Mats insiste em defender o indefensável. Eu bem lhe explico que dizer que ateísmo é doença é a mesma coisa que dizer que ser careca (ou já agora, loiro) é ser doente. Os ateus de um modo geral não sofrem como consequência directa ou indirecta do ateísmo (pelo menos, não mais do que os religiosos sofrem como consequência da sua religiosidade). Se vamos definir doença de tal maneira que inclua tudo o que é variabilidade, então a definição torna-se inútil.

Pela resposta que obtive, o Mats não percebeu a minha analogia - era sobre o impacto que causavam e não se um era negar a existência e deus e o outro era não ter cabelo! Mas há mais: «Aparentemente, sofrem, visto que têm menos filhos, saúde inferior, mais problemas psicológicos, são menos altruístas, etc, etc.» - São menos altruístas? E sofrem por serem menos altruístas? Mais problemas psicológicos? E é o ateísmo que causa os problemas psicológicos? Pelo que li sobre o assunto, não me parece, nem me parece que, considerando os estudos e observações clínicas que contradizem isso, os ateus tenham mais tendência a sofrer de problemas mentais (http://allthatmattersmaddy32b.blogspot.pt/2014/10/religiao-vs-saude-mental.html). Além disso, estudos que encontram correlações nem sempre encontram causalidade. Mais ainda, desde quando é que ter menos filhos indica menos saúde ou faz alguém sofrer? Tanta treta em tão poucas linhas... 
A causa da doença ou de certas atitudes pode não ser o ateísmo em si (falta de crença em quaisquer divindades, que é como o termo é empregue pela maioria dos ateus, que eu saiba - e o dicionário deve ser descritivo e não prescritivo), mas talvez a falta do espírito de comunidade envolvente nos meios mais religiosos (mas que está longe de ser universal nesses mesmos meios) - não terá a ver com a falta de crença em si. De qualquer maneira, certas patologias podem ser agravadas/despoletadas pelo contacto com a religião ou pela adopção de crenças religiosas. Quanto à questão do altruísmo, isso não significa doença mental ou sofrimento. E o altruísmo nem sequer é requisito para o sucesso (antes pelo contrário). Ainda que tivesse bases para afirmar que o ateísmo contribuiu para o desenvolvimento/agrava a patologia, seria apenas um factor de risco (entre vários outros, e tal como a religião é para certas patologias) e não uma doença em si. O ateísmo em si, indica variedade de forma de pensar e de crenças - neste caso, é falta de crença (que poderá ter um fundo de variedade biológica). Nada mais.   


Ref.:

1. “Are atheists mentally ill?”, Sean Thomas (http://blogs.telegraph.co.uk/news/seanthomas/100231060/are-atheists-mentally-ill/) (Via "Darwinismo") 



     

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