sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Outra vez o ENCODE (e o "código")

Os criacionistas não largam os resultados do ENCODE, nem com tudo o saiu depois sobre esse assunto a assegurar que nada estava garantido. No "Darwinismo", o Mats (e os criacionistas do Discovery Institute que ele cita (1))  continua a teimar nesses resultados e que os cientistas em geral não os aceitam porque, sobretudo, são "evolucionistas". Eu indiquei, então, que nada estava garantido, que a definição estava no mínimo incompleta à luz da bioquímica e era inútil, apontei um artigo e um texto meu sobre o assunto, ao que um criacionista respondeu, com uma carga de arrogância (que não tem qualquer razão de ser, porque não passa de um ignorante). Claro que uma das coisas com que ele se distraiu do fundamental foi, claro, o "código". Algumas citações e as minhas observações (2):  
«Que isso? (sic) Entretenimento … Science up Comedy ?» Vindo de uma pessoa que nunca deve ter tido uma aula de biologia na faculdade... ou de qualquer outra coisa, já agora.  
«É verdade não HÁ CÓDIGO (...) O que o wiki diz sobre codigo genético? (...)» - Sabe perfeitamente o que eu quero dizer. Não faz sentido dizer que que é um código (não no sentido de precisar de inteligência. Um código a sério é o código Morse, por exemplo, que precisa de inteligência para ser interpretado) porque não há ninguém (ninguém inteligente) para estabelecer semântica a meio do processo que ocorre na célula. São só reacções químicas (e eu já expliquei isto antes, de várias formas). E em vez de ler a parte mais importante para o tema, perde-se em pormenores pouco relevantes.
«Uma maneira de inferir funcionalidade generalizada, apesar de não se ter conhecimento da função precisa, é notar que todo o genoma, ao contrário do pressuposto darwinista, está sujeito a várias camadas de reparo do DNA (ou seja, por que o celular tão ciosamente protege tanto lixo, peso morto?)» - A cometer o mesmo erro do ENCODE. Lá por ocorrerem certas reacções de reparação não quer dizer sequer que essa parte do DNA é transcrito, quanto mais que produz algo importante para o organismo.

Actualização: os criacionistas contra-atacam. 

Estava à espera de mais uma dose de ignorância e má vontade, e mais uma vez o observado corresponde ao esperado.
Do Mats (com as minhas observações):
«A replicação genética só é possível porque há inteligência embutida no ADN que permite o corpo biológico interpretar o significado do original e fazer uma cópia idêntica.» – Não há inteligência nenhuma embutida no DNA, o que há é uma série de reacções a partir do DNA, conforme a sequência de bases (que não tem obrigatoriamente uma origem inteligente.
«Além disso, o Projecto ENCODE é uma evidência óbvia que é preciso inteligência para entender o significado e a função das bases nitrogenadas (Adenina, Guanina, Citosina, Timina).» Se quer encontrar um paralelo, está a confundir alhos com bugalhos. Confunde a necessidade de inteligência para atribuir o significado (e para depois o interpretar, claro) para haver um código (como decidir que dois sinais, de luzes, por exemplo, com um sinal curto pelo meio significa SOS), com inteligência para compreender que certa cadeia de reacções dá um certo produto consoante a sequência de bases da molécula de onde parte.
«Mas a semântica é determinada ANTES da célula estar criada, por isso, o teu argumento é inválido.» «Não faz sentido dizer que é um código porque não há ninguém (ninguém inteligente) para estabelecer semântica a meio do processo que ocorre na célula.» – Devia ter dito “interpretar”, em vez de “estabelecer semântica”. E está certo, não dá para dizer que é um código da mesma maneira que o código Morse que precisa disso é um código (num sentido mais lato, talvez sim, talvez não). E é um código como o código Morse (ou até uma correspondência entre números e letras que se invente, por exemplo) que precisa (obrigatoriamente) de inteligência para existir e ser interpretado. De qualquer maneira se não fosse a má vontade do costume, teria dado para perceber no contexto. O sentido do código Morse também é estabelecido antes de qualquer interpretação. Mas não tem nada a ver uma coisa com a outra. De qualquer maneira toda esta questão do código ocupa tempo e espaço, mas não serve de nada. Sendo um código (num sentido lato), ou não, não interessa. Há imensos estudos sobre as origens que indicam que a primeira célula teve origem natural, e até o código genético.

O comentário que se seguiu (do Mats) demonstrou mais uma vez uma falta de compreensão sobre praticamente tudo o que lhe expliquei. Pode ser visto no "Darwinismo". A minha resposta: «”Se quer encontrar um paralelo,está a confundir alhos com bugalhos. Confunde a necessidade de inteligência para atribuir o significado” – Não se está a atribuir significado nenhum mas sim a usar termos humanos para entender uma linguagem biológica. Lembra-te: traduzir não é inventar significado.» Era por isso mesmo que lhe estava a dizer que não há paralelo. Quanto ao resto do seu comentário, parece-me que não percebeu (ou não quis perceber) nada do que lhe expliquei.
«Infelizmente, nenhum deles sobrevive ao escrutínio científico.» Aventar (ou inventar) sem indicar referências fiáveis - leia-se artigos com revisão de pares, não altera nada - os artigos, com as evidências e os processos propostos continuam lá. 
Esta conversa do código está já estafada, e é até bastante entediante (e algo frustrante) ao fim de algum tempo, pelo que fico por aqui.    

Do Jeph (o criacionista do costume):
«Pois é, eu sou um ignorante com a oportunidade de não ser arrogante e absorver muito informação sobre biologia de sistemas, genética, biomimética e etc…» Finalmente acertou em alguma coisa.
«E eu também por considerar o cérebro um design incrível, fico lendo sobre o cérebro e não é que eu descobri que a inteligência humana não pode ser explicada pelo tamanho do lobo frontal do cérebro?» Parabéns... Quer um prémio?
«ENCODE mediu a atividade biológica real. A diferença entre ENCODE e o estudo de Oxford é o fracasso de uma predição darwinista, não uma falha do ENCODE.» Apenas repete o que lê em sites criacionistas (sem bases para sequer perceber os argumentos pró e contra).
«“Não faz sentido dizer que é um código porque não há ninguém (ninguém inteligente) para estabelecer semântica a meio do processo que ocorre na célula. São só reacções químicas (e eu já expliquei isto antes, de várias formas)”» (voltou a citar a Wiki) - Para clarificação leia o meu comentário acima.

Ref.:

1. «Junk DNA: Darwinists Say They Are "Largely Free from Assumptions or Hypotheses"»,
Jonathan Wells July 30, 2014 (EnV, disponível em: http://www.evolutionnews.org/2014/07/junk_dna_darwin088361.html)


2. «Só 8,2% do cérebro dos evolucionistas é funcional», 05/08/2014, Mats ("Darwinismo", disponível em: http://darwinismo.wordpress.com/2014/08/05/10854/) - comentários   


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