sábado, 30 de agosto de 2014

Um "geneticista" (não) demonstra que a teoria da evolução não está de acordo com as evidências - genéticas e outras

    Maciej Giertych é o que cá em Portugal se poderia traduzir por engenheiro florestal e auto-intitulado geneticista e professor de genética. Não tem nenhum grau académico em nenhuma área da genética, mas sim (provavelmente) alguma formação académica a nível da licenciatura em algo que se pode traduzir por engenharia florestal aqui em Portugal, que terá sido o suficiente para fazer uma tese sobre genética florestal e, possivelmente, ter alguns artigos que tocam no assunto publicados – o que não faz dele um “geneticista”. Um geneticista é um médico ou biólogo com uma “especialização” (com instrução académica) em genética. O que ele tem não é uma especialização, é formação geral durante uma licenciatura. O trabalho dele valeu-lhe um grau designado “habilitation” duma universidade que ainda não era universidade, então é provável que o grau de exigência não seja comparável ao que normalmente se designa “habilitation”, portanto nem por aí os criacionistas, seus fãs, podem pegar. Para verem o disparate, isso é comparável a chamar geneticista a um psicólogo só porque teve uma ou duas disciplinas de genética na universidade e fez uma monografia sobre, por exemplo, evidências para a hereditariedade da psicopatia (ou outra doença qualquer), ou a um bioquímico (que tem em muitos casos a mesma “dose” de formação académica no assunto). Os criacionistas adoram-no, mas vários cientistas de vários países protestaram sobre os disparates que ele escreveu para a Nature (1) e que repetiu (e acrescentou) noutros lados (2) (e refutaram ou desmentiram alguns entretanto) (3). Se ele é professor de genética, então nesse caso, eu teria o cuidado de pôr os meus filhos (se os tivesse) numa universidade onde ele não trabalhasse.
    Ele quer levar o público leigo (sim, porque com a comunidade científica não tem hipótese) a acreditar que o facto da deriva genética e da selecção natural reduzirem a variabilidade é um problema para a evolução.
«A microevolução, a formação das raças, é um facto; as populações adaptam-se aos ambientes específicos com os alelos mais bem sucedidos a aumentarem de número enquanto que os outros diminuem de frequência ou desaparecem por completo. As alterações podem também ocorrer devido à perda acidental de alelos (deriva genética) em populações pequenas e isoladas. Ambas nada mais são que um declínio na informação genética, mas a macroevolução requer um aumento da informação genética.»

    Claro que não é nenhum problema, pois a variabilidade é reintroduzida pelas inevitáveis mutações (no caso da selecção basta aliviar a pressão selectiva) e eles saberiam que não é problema se estudassem um pouco. Actualmente há recursos, inclusivamente online, acessíveis a todos (4). Além disso, para aumentar a informação (seja em que sentido for) temos a duplicação de genes combinada com mutações pontuais. Como vêem, não há problema. Se é possível que ocorra extinção em espécies já ameaçadas e com populações pequenas? Sim. Mas isso não impede que outras populações continuem a evoluir. E registo de extinção é o que não falta - cerca de 90% das espécies. umas extinguem-se, outras evoluem. Como actualmente.        
    Como não podia deixar de ser, o Mats traduziu o texto do Giertych (e concorda com todos os disparates). Um dos seus seguidores criacionistas comentou o seguinte (citando vários artigos): 
«O que percebo é que se pega um ponto aqui e outro ali para se debater e poucos possuem uma visão completa, da dimensão que este debate precisa, que inclui diversas perspectivas em diversas áreas em seu desenvolvimento. Tal perspectiva geral, ao meu ver , é muito importante para que o debatedor adentre aos portais da disputa, sabendo os pontos mais importantes que estão em jogo. Separei alguns pontos que percebo serem cruciais nesta discussão. Antes de tudo, todos devem procurar buscar entender que o raciocinio do paradigma atual darwinista, quando Darwin, usando as observações sobre a perspectiva da biodiversificação de especies (que ocorre e que é patente diante de muitos experimentos até em tempo real ) , para se projetar na geocronologia de Lyell , com seres fósseis distintos nas bases e camadas consideradas mais antigas, serem lógicos e por isso foram convalidados como teoria pela ciência atual. PORTANTO, é necessário que se saiba o que está se discutindo nos níveis:

1. BIOLÓGICO – precisamos divulgar e estudar os trabalhos de “descontinuidade sistemática” entre grupos de especies para verificarmos os limites versus ancestralidade totalmente comum (sem limites) http://ncse.com/rncse/26/4/baraminology

2. GENÉTICO – Como nos divulgou Sergei Matsenko, a forte opinião do professor de genética, Maciej Giertych, demonstra um resumo das posições em conflito entre criacionismo e teoria da evolução http://bit.ly/1lzsChH , é preciso conhecer os trabalhos recentes do Dr J C Sanford (Entropia genética) e os trabalhos do Dr Gerald Crabtree (Fragil intelecto, publicado na TRENDS em 2010) para só então perceber o que está em jogo.

2. GEOLOGIA SEDIMENTOLOGIA – Precisamos estudar a geologia catastrofista e a formação simultanea das camadas (BERTHAUT) em contraste com a GEOLOGIA GRADUALISTA DE LYELL EM QUEM DARWIN SE APOIOU http://www.sedimentology.fr/

3. DATAÇÃO – Precisamos estudar e divulgar questionamentos aos métodos de datação radiométrico http://www.icr.org/rate/ bem como saber pelo mesnos algumas das mais de 100 perspectivas datacionais que combatem E DISPUTAM COM o paradigma geocronologico atual…

4.PALEONTOLOGIA TRANSICIONAL E PALEONTOLOGIA EM T - Temos que estudar o pontualismo que tenta justificar a falta de transicionais graduais na coluna geológica, reclamados pelos criacionistas durante 150 anos, e defendidos pelos darwinistas até recentemente, e que cessou quando Gould apresentou a tese saltacionista que defende transformações rapidas biologicas , mais escassez de variação devido preservar mais especies “na moda” entre outros argumentos. E entender a PALEONTOLOGIA EM T que é uma tese que desenvolvo desde 2010. Representa o numero pequeno de especies na coluna geologica em contraste com numero grande de especies na atualidade formando a imagem de um T. (...)

4. ORIGEM DA VIDA – precisamos estudar quimica e bioquimica, no livro FOMOS PLANEJADOS do Marcos Eberlin , artigos do stephen Meyer, Behe e outros da discovery… para combater ideias de abiogenesis, panspermia, etc que fazem a ciencia passar muita vergonha com artigos reputando ao nada a origem de tudo.... (Sic)»

O último ponto (sobre os fósseis), pelos resultados de uma pesquisa rápida online, parece-me uma invenção criacionista, pois não encontrei nenhum artigo sério sobre o assunto. Quanto ao resto, o meu comentário:

«Relativamente ao ponto 1, ao menos leu o artigo que citou? Da conclusão do artigo em 1: «Despite its use of computer software and flashy statistical graphics, the practice of baraminology amounts to little more than a parroting of scientific investigations into phylogenetics. A critical analysis of the results from the one “objective” software program employed by baraminologists suggests that the method does not actually work. The supremacy of the biblical criteria is explicitly admitted to by Wood and others (2003) in their guidebook to baraminology, so all their claims of “objectivity” notwithstanding, the results will never stray very far from a literal reading of biblical texts.»

O mesmo para o artigo citado no ponto 2: «Our experiments on the formation of strata are fundamental because they demonstrate, ‘inter alia’, that in a continuous turbulent current many superposed strata form simultaneously and progress together in the direction of the current; they do not form successively as believed originally. These experiments explain a mechanism of strata building, showing empirically the rapid formation of strata.» – Como indicado neste parágrafo, são precisas condições específicas (catastróficas), que provavelmente não se aplicam, em todos os casos, nem numa maioria, e é possível diferenciar se o tempo que passou entre camadas foi muito ou pouco (mais sobre o assunto aqui: http://www.theotokos.org.uk/pages/creation/berthaul/henke.html).

«precisamos estudar quimica e bioquimica, no livro FOMOS PLANEJADOS do Marcos Eberlin , artigos do stephen Meyer, Behe e outros da discovery…» Pode começar pelo básico da bioquímica e da genética molecular (pode dirigir-se a uma faculdade perto de si, ou simplesmente a uma biblioteca), continuar para a literatura científica (sabe, aqueles artigos que aparecem quando pesquisa no pubmed, sujeitos a revisão de pares), e só depois deve ler os disparates dos criacionistas, já com “bagagem” para perceber (pelo menos em parte) porque estão errados. Comentários e críticas de cientistas da área sobre o assunto também costumam ser úteis (para quem tem capacidade e conhecimento para perceber a matéria, claro)

Entropia genética não é, primeiro que tudo, um termo científico, é um jargão criacionista, e o que o Sanford diz (especialmente num livro dirigido ao público leigo) tem sido contestado por uma data de cientistas [que apontam que o que ocorre a nível das populações humanas não se estende a todas as formas de vida, que as mutações prejudiciais não devem ser tantas como pode parecer à primeira vista quando se pensa nisso, pois a maioria das mutações vão calhar no DNA lixo e ainda soluções evolutivas que transformam o “problema” num não-problema – ex.: epistasia sinergética e “soft selection”, com menos custos para a população]: http://letterstocreationists.wordpress.com/stan-4/,http://sandwalk.blogspot.pt/2014/04/a-creationist-tries-to-understand.html, http://newtonsbinomium.blogspot.pt/2006/10/review-of-mystery-of-genome-ii.html, [http://www.genetics.org/content/190/2/295.full - Rates and Fitness Consequences of New Mutations in Humans, Peter D. Keightley1,  doi: 10.1534/genetics.111.134668Genetics February 1, 2012 vol. 190no. 2 295-304, http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0022519385701671 - Contamination of the genome by very slightly deleterious mutations: why have we not died 100 times over?, Alexey S. Kondrashov, Journal of Theoretical Biology - Volume 175, Issue 4, 21 August 1995, Pages 583–594].»


Relacionado com o assunto da acumulação de mutações deletérias aquando da diminuição do tamanho da população (e a posterior compensação através da acumulação de mutações benéficas) temos o artigo do geneticista de populações Michael Lynch (et al) de 2003, publicado na revista “Evolution” (Evolution 57, 1022-1030) *. Nem neste caso a acumulação de mutações deletérias constitui problema para a evolução.     

Referências: 

1. "Creationism, evolution: nothing has been proven", Nature 444, 265 (16 November 2006) | doi:10.1038/444265d; Published online 15 November 2006, Maciej Giertych (disponível em: http://www.nature.com/nature/journal/v444/n7117/full/444265d.html
2. "Professor of genetics says 'No!' to evolution", Maciej Giertych - Creation Ministries International (disponível em: http://creation.com/professor-of-genetics-says-no-to-evolution) - Via "Darwinismo" (http://darwinismo.wordpress.com/2014/08/29/professor-de-genetica/#comments).    
3. NATURE|Vol 444|7 December 2006 (correspondência - várias cartas)  (disponível em: http://www.eko.uj.edu.pl/rutkowska/abs/2006_nature.pdf) - Via "Pharyngula" (http://scienceblogs.com/pharyngula/2006/12/07/pigpile-on-maciej-giertych/)
4. "Effects of Genetic Drift" (disponível em: http://evolution.berkeley.edu/evosite/evo101/IIID2Genesdrift.shtml

*Nota: dois dos artigos científicos citados no texto encontram-se referenciados na discussão da página da wikipédia sobre J.C. Stanfor (a completar a página do artigo, que parece escrita por criacionistas enviesados): http://en.wikipedia.org/wiki/Talk:John_C._Sanford   

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Mais sobre evolucionismo teísta, as suas incoerências, genética de populações e criacionismo

Há uns tempos escrevi sobre as incoerências do evolucionismo teísta ("cristão"), e depois resolvi pedir a opinião de um cristão (o Daniel Pereira do "Considere a Possibilidade") sobre certos atributos de deus que pareciam apontar para tendências narcisistas. Aqui está a resposta:  
«Oi, Maria!
Desculpe minha LONGA demora para responder, mas eu estava na Itália, em um lugar sem muita internet disponível, e só vi agora seu post.
O problema que você apresentou, sobre Deus ser narcisista, já me incomodou muito, até eu descobrir que ele não é sequer um problema. E tudo é bem simples.
1. O primeiro dos Dez Mandamentos é “Eu sou o Senhor, o teu Deus, que te tirou do Egito, da terra da escravidão. Não terás outros deuses além de mim.” (Êxodo 20:2-3). Ponto 1. Se Deus é justo, ele faz mandamentos justos, que podemos e devemos cumprir, pois um Ser justo jamais mandaria que realizássemos algo impossível. Ponto 2. Se Deus quer ser justo e coerente, precisa obedecer a esses mesmos mandamentos. Ponto 3. Se Ele permitir ou aceitar ou estimular a adoração, veneração ou elogios a qualquer outro deus está sendo, Ele mesmo, idólatra, injusto e incoerente. Portanto, Deus precisa adorar a Si mesmo afim de não ser idólatra, e incorrer em um dos pecados mais graves. E o fato de nos lembrar de adorá-lo é um constante chamado ao abandono do perigo da idolatria – e portanto, um ato de amor de Sua parte. Isso é bem diferente de narcisismo, porque Narciso SE JULGAVA “divino”, por assim dizer, embora não o fosse, enquanto que Deus, por ser Onisciente, SABE disso.
2. O evolucionismo teísta é bobagem, pelas razões que você apontou e porque a própria Bíblia o diz em Romanos 1:20: “…desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas CRIADAS…”. (ênfase minha). A palavra que eu enfatizei, no grego, é “poiema”, que significa algo feito com as próprias mãos. Se Deus usa morte e acaso para criar ele não é nada mais que um demiurgo brincalhão. (Além disso, lembrar que um conceito evolucionista já existia na filosofia grega à época em que Paulo escrevia, e Paulo ignora completamente o uso desse conceito na formulação dessa doutrina.) Agora, na natureza vê-se ordem, mas vê-se entropia; vê-se a beleza do nascimento, mas a feiúra da morte, o que é perfeitamente coerente com Gênesis 3 (que Paulo tinha em mente quando escreveu Romanos). O criacionismo é bem mais, eu diria, corajoso, porque fala o seguinte sem ter a menor vergonha: Deus criou um universo perfeito, que depois caiu em entropia por causa da maldição que Ele mesmo lançou no universo, e que sofreu um dilúvio de proporções bíblicas (HA! Quero ver evolucionista fazer esse trocadilho!). O que vemos no mundo de hoje, desde a seleção natural, à entropia genética e o registro fóssil, podem ser explicadas por isso. Pode não ser científico como quer Popper, uma vez que não pode ser reproduzido, nem testado, mas faz muito sentido lógico. Opa se faz. Os processos “evolutivos” (seleção natural, entropia genética etc) são explicados como uma consequência nefasta do pecado, e para eles é oferecida uma promessa de eliminação: “Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou.” (Apocalipse 21:4) Resumindo, Maria: o criacionista tem um modelo coerente. O evolucionista teísta não.»
O primeiro ponto pareceu-me internamente coerente - e não desmente nada do que eu disse anteriormente sobre o facto de deus querer ser notado e adorado ser incoerente com o uso do processo evolutivo. Só que não tenho a certeza de que tudo o que deus fez na Bíblia possa ser considerado justo. No segundo ponto, as objecções contra o evolucionismo teísta baseiam-se numa interpretação literal da Bíblia, que de facto, pelo menos neste caso, não me parece descabida - não vejo nenhuma metáfora na frase referida, ou qualquer sentido alternativo possível.
Ainda relativamente ao mesmo ponto, é de notar que "entropia genética" (pelo menos que eu saiba) não é nenhum termo científico, mas um termo inventado por criacionistas. Eles pensam que o facto da selecção ser menos eficaz em populações pequenas com alelos com pouco benefício selectivo é um problema para a evolução em geral, e que a proporção de mutações benéficas para mutações deletérias é também um problema, mas estas não devem ser tantas como se pode pensar à primeira vista, uma vez que grande parte das mutações vai calhar no lixo genético, também, só que não há problema nenhum, exactamente pelo que eu acabei de explicar e por outras razões (*).
* Nota: Ver mais aqui: http://letterstocreationists.wordpress.com/stan-4/, http://sandwalk.blogspot.pt/2014/04/a-creationist-tries-to-understand.html, http://newtonsbinomium.blogspot.pt/2006/10/review-of-mystery-of-genome-ii.html, http://www.genetics.org/content/190/2/295.full - Rates and Fitness Consequences of New Mutations in Humans, Peter D. Keightley1, doi: 10.1534/genetics.111.134668Genetics February 1, 2012 vol. 190no. 2 295-304, http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0022519385701671 - Contamination of the genome by very slightly deleterious mutations: why have we not died 100 times over?, Alexey S. Kondrashov, Journal of Theoretical Biology - Volume 175, Issue 4, 21 August 1995, Pages 583–594.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Deus na cosmologia moderna

 

"God & Cosmology" - 2014 Greer-Heard Forum



(Via “Why evolution is true”)

 

Como Sean Carrol afirmou na primeira intervenção, a hipótese de deus nem é considerada no estudo da cosmologia (por ser vista como uma péssima hipótese, infundada, desnecessária), ao contrário do que o público leigo pode ser induzido a acreditar. De resto, saliento alguns aspectos importantes da discussão entre Carrol e Craig:  

 

- Existem vários modelos do nosso universo em que este não tem um começo e são possíveis descrições do nosso universo como sendo eterno (com uma transição para o espaço-tempo, ou um momento em que a entropia é a mais baixa – big bang), incluindo o do próprio Sean Carrol, e outros que vão de menos infinito a mais infinito. 

 

- No modelo de Hawking e Hartle – “no boundary quantum cosmology model” – o Universo não tem um começo no tempo, mais uma vez enfatizando que os “primeiros passos” do nosso universo não são para ser compreendidos apenas através do senso comum (por isso, afirmações simplistas do tipo “tudo o que começa a existir tem uma causa/ causa transcendente” falham redondamente a abordagem – não se deve tomar nada como garantido, incluindo que o universo começou a existir no tempo e que tem que ter uma causa, ainda que isso assim seja), nem nada nesse modelo depende da existência de algo fora do universo. Se é possível construir um modelo destes do nosso universo (tendo em conta tudo o que se observa nesse universo), então é possível que isso assim seja na realidade. 

 

- O multiverso, previsto por várias teorias da física explica a aparência de “fine-tunning”, portanto deus não é necessário nem mais provável por isso.

 

- Com um deus que criasse um universo “afinado” para a existência de vida, era de esperar que o universo estivesse apenas suficientemente “afinado”, sem mais nada que não viesse a propósito (“para quê?”, podemos perguntar-nos, “que despropositado, como se fosse acidental…”). Não é o que observamos. O que observamos é exactamente como se fosse algo despropositado: por exemplo, a entropia do universo jovem era muito, muito mais baixa do que seria preciso para haver vida. Além disso, a vida (como a conhecemos) é insignificante no todo do universo.

 

- Um exemplo de evidência a favor do teísmo que mais uma vez não se verificou: Partículas e parâmetros da física de partículas teriam algum tipo de estrutura, talvez “assinatura”, que permitisse distinguir algo de racional, mas não têm – é tudo aleatório e uma confusão. 

 

- Se o deus teísta (como o da Bíblia ou do Corão) existisse, devia haver evidências (mais ou menos óbvias) para a existência de deus. Não há. As religiões (e experiências religiosas) deviam, pelo menos, ter muito mais em comum e haver um código universal de normas morais (como seria de esperar num mundo com um deus que quisesse que a humanidade em geral obedecesse às suas leis e mandamentos). Isso não se verifica.

 

- O teísmo não é algo bem definido pelos próprios crentes, é flexível ao ponto de negarem quase tudo o que disseram anteriormente a seu belo prazer (como seria de esperar se fosse uma personagem inventada a partir de um conto antigo). E é assim que fogem ao escrutínio, não havendo previsões sólidas que se possam pôr à prova – nem evidências, o que faz com que seja uma péssima hipótese em termos científicos, embora muito útil ao crente fervoroso. Mas se não fizessem jogo sujo, a hipótese já estava descartada há muito.   

 

- Por último, mas não menos importante: “teísmo” é, muitas vezes, desculpa para parar de raciocinar/pensar. Basta dizer que “deus fez” para explicar tudo e mais alguma e o assunto fica resolvido.

 


O Craig fugiu de debater os pontos relativos às observações que contrariam possíveis (uma vez que temos um problema de fuga ao escrutínio) previsões do teísmo, às evidências em falta, excepto no que toca ao assunto da entropia (ele afirma que deus podia ter feito isso assim para ser perceptível por nós, mas isso não explica, pois de outra maneira seria igualmente perceptível). Falha em reparar em certas nuances e implicações da resposta de Carrol – por exemplo, relativamente ao modelo de Hawking e Hartle, que não se deve tomar nada como garantido através de senso comum, o que significa que a abordagem dele está errada do princípio ao fim. Mais ainda, ignora que o universo não é, por exemplo, análogo a uma bicicleta que se encontra no espaço e tempo deste universo, estando sujeita a leis (regularidades) e é parte de um todo maior interactivo. Continua a reforçar a sua ideia inicial de que os dados da cosmologia tornam a hipótese teísta mais provável, ignorando os problemas da explicação teísta para a aparência de fine-tunning, que não tem nada de melhor do que a alternativa, ponha-lhe ele os defeitos que puser (especialmente se considerarmos que deus podia ter criado vida e vida inteligente de muitas outras maneiras, e o universo de várias outras maneiras). Outra das coisas é que o Craig acha que o multiverso não funciona como explicação porque é muito mais provável que existam universos com cérebros do que com pessoas... mas vários modelos de multiversos passaram o teste probabilístico aplicado pelos físicos (pelo menos segundo Carrol, e não tenho razões para duvidar).   

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Compatibilidade entre a teoria da evolução e deus – Não faz sentido (Cont.) - Adenda

Tangencial a este assunto, é o facto de certos teólogos (e crentes no dia-a-dia) continuarem a argumentar que deus tem razões válidas para se esconder, quando os ateus apontam que sendo omnisciente e querendo que acreditem nele e o venerem, devia saber a importância de fornecer evidências da sua existência. Uma delas é que deus quer simplesmente que acreditem nele, por fé (mas isso não implica, como eu já apontei nos comentários ao texto sobre as evidências que me podiam convencer, que não deva haver evidências nenhumas, nem sequer que fornecê-las não tem de todo importância, mas que haja espaço para duvidar - ou acreditar com uma certa dose de fé, por exemplo, através de evidências de design na natureza, da radiação das várias espécies a partir da Arca/Éden, ou seja, menos "directas", que não existem - o que existe são evidências da evolução e de nada que saia fora do que é natural), outra é que se ele revelasse a sua existência sem espaço para dúvidas, por milagres, por exemplo, isso poderia tornar-nos "cegos" a outras virtudes que ele nos quisesse ensinar. Mas é claro que uma solução mais inteligente e coerente com quem quer ser venerado a todo o custo, seria ensinar essas virtudes revelando-se directamente. A resposta dos teólogos (pelo menos de um deles), é que um milagre divino não seria tão convincente, como percebermos por nós próprios. O argumento falha porque a maioria das pessoas tende mais a acreditar por milagre e não por "descobrir por eles próprios" (1) (deus devia saber isso). Parafraseando: "Tens a certeza que não está escondido debaixo de uma pedra porque nos quer ensinar a ser pacientes?"
Outro dos passatempos preferidos dos teólogos em geral, é argumentarem que os ateus não estudam os melhores argumentos para a existência de deus, o que não é verdade (pelo menos para todos), e aquilo a que eles chamam de "melhores argumentos para a existência de deus" não tentam sequer estabelecer um caso para o deus da Bíblia e da maioria dos cristãos, específicamente, mas para uma ideia panenteísta muito mais vaga de deus, que se revela de modo imprevisível, tendo mais hipótese de escapar ao crivo de possíveis testes (mas que ainda assim continua a ter características antropomórficas, embora menos), não são bem sucedidos, mas constituídos por uma série de premissas (ex.: a nossa capacidade para perceber a verdade do que nos rodeia, que pode ter sido produto da evolução por selecção natural) das quais a existência desse deus também não segue necessariamente (2). Essa noção vaga não é o que está em causa para a maioria dos crentes com quem se discute, além de que aproximadamente metade dos crentes, e já chegou a mais de metade há bem pouco tempo, são criacionistas da Terra jovem, dividindo-se o resto entre o evolucionismo teísta e o criacionismo do design inteligente nos Estados Unidos (3). De qualquer maneira, não me parece haver revelação nenhuma (previsível ou imprevisível), à excepção daquilo a que se chama “revelação pessoal”, que me parece (e não só a mim (4)) não ter nada a ver com este tipo de deus, e vindo de um deus diferente de cultura para cultura, pelo menos, como era de esperar se não houvesse deus nenhum, apenas as experiências subjectivas de cada pessoa, influenciadas pela sua tradição, ou houvessem antes vários seres/deuses a comunicar. Então, porquê acreditar? Não tenho quaisquer razões para acreditar nesse deus (ou sequer em vários, pois não poderia verificar nada), tal como não tenho razões para acreditar no deus dos criacionistas, do qual também não há evidências a favor, só contrárias, e que indicam evolução e não criação instantânea.   

Ref.:

1. "Peter Van Inwagen explains why God is hidden", Jerry A. Coyne, 17/8/2012, Why evolution is true (disponível em: http://whyevolutionistrue.wordpress.com/2012/08/17/peter-van-inwagen-explains-why-god-is-hidden/

2. "Religious Believers' Favorite New Book Is a Failed Argument for God", Jerry A. Coyne, 16/4/2014, New Republic (disponível em: http://www.newrepublic.com/article/117393/david-bentley-harts-experience-god-isnt-must-read-atheist)  

3. "Evolution, Creationism, Inteligent Design",Monday, August 18, 2014, Gallup (disponível em: http://www.gallup.com/poll/21814/evolution-creationism-intelligent-design.aspx)

4. "David Bentley Hart on God", Jerry A. Coyne, 2014/03/24, Why Evolution is True (disponível aqui: http://whyevolutionistrue.wordpress.com/2014/03/24/david-bentley-hart-on-god/)


Actualização (30-08-2014):

Ao que parece existe uma passagem no novo testamento em que Jesus diz que não serão concedidos sinais aos descrentes. E aos crentes, para lhes reforçar a fé e garantir adoração continua da sua parte? Faria sentido. Por exemplo, revelar-se consistentemente a todos os crentes que precisassem da sua fé reforçada (é daí que provem a maior parte dos ateus) - não vejo nada disso. É claro que continua a ser preciso uma certa dose de fé para acreditar que foi aquele deus especificamente. Mais ainda, essa afirmação não faz sentido à luz do que sabemos sobre o deus do antigo testamento (*), que quer que o adorem, precisa de ser notado. E Jesus pretende referir-se ao mesmo deus. Assim, a explicação mais plausível, assumindo o teísmo (pois a outra seria impensável se a ideia de deus do velho testamento fosse a correcta) é que Jesus não era seu filho, nem divino, e isso não lhe foi revelado por deus (o que está de acordo com a versão judaica da história). Outra é que Jesus não disse nada disso e quem escreveu isso estava errado. É claro, que se não assumirmos nada, nem deus existe, nem Jesus era divino nem filho de deus. Temos um problema de conflito interno, além do conflito da caracterização do deus judaico-cristão com o uso da evolução. É de notar ainda que com a sua falta de sinais e evidências, os objectivos pseudo-narcisistas de deus não estariam a ser cumpridos em bastante mais de metade da população mundial, que são hindus, budistas, taoístas, muçulmanos, wiccans (incluindo ateus, panteístas e politeístas), cientologistas, possivelmente alguns cabalistas, ateus, agnósticos, deístas, outros panteístas, outras pessoas sem religião (incluindo teístas - normalmente algo vago entre o teísmo e os deísmo, aproximando-se à visão da igreja católica, por exemplo), até alguns que se identificam como cristãos, mas que no máximo seriam identificados como deístas (e ateus na prática), índios, etc.          
Nota: A não ser que por "sinal" ele queira apenas dizer "milagre" ou "revelação directa", ou que com essa frase queira apenas dizer que tem que haver sempre espaço para a fé, que como eu já disse, não significa uma total falta de evidências – indícios de design na natureza, que não tivessem explicações evolutivas possíveis ou outras, por exemplo. 

sábado, 16 de agosto de 2014

Empatia, perspectiva evolutiva, e o défice empático dos criacionistas

Empatia é a capacidade de partilhar ou reconhecer as emoções dos outros, e desempenha um papel fundamental na capacidade para sentir compaixão, e é também importante distinguir que ter pena não é o mesmo que sentir empatia. Várias regiões do cérebro estão relacionadas com esta capacidade, três delas são a amígdala, o putamen e a ínsula (1,2). 
Numa perspectiva evolutiva, a empatia é importante porque proporciona a habilidade de perceber os sinais emocionais noutros e, neste sentido, ter empatia relativamente à dor dos outros também pode ter importância adaptativa (2), o que inclui a empatia emocional, bastante primitiva, a qual seria útil, por exemplo, para perceber se algo constituía um perigo, por exemplo, um alimento (11) - a psicologia evolutiva é ainda uma ciência em embrião, pois parece-me que ainda se fica por identificar características com possível valor adaptativo (de acordo coma as observações) e especular com evidências ou dados insuficientes, mas as ideias-base são fundamentadas no conhecimento científico já estabelecido, e por isso tem potencial. Chegando a este ponto, é importante distinguir entre empatia cognitiva e afectiva ou emocional: empatia cognitiva é a capacidade de compreender a perspectiva dos outros e o seu estado psicológico (adoptar a perspectiva do outro, tendência para se identificar com personagens de ficção) e empatia emocional é a capacidade de ter uma resposta emocional adequada perante o estado psicológico dos outros (compaixão pelos outros, como resposta ao seu sofrimento, sentimentos de desconforto do próprio em resposta ao sofrimento de outros que poderá ter a ver com o desenvolvimento) (3). Um fenómeno que poderá estar relacionado é quando as crianças "captam" as emoções dos outros quando os vêem chorar (normalmente em funerais). No entanto, chorar em funerais também pode não ter nada a ver com empatia, nem com tristeza exclusivamente por certa pessoa ter morrido. Quando eu tinha 7 ou 8 anos, fiquei stressada (o que acabou em choro) num funeral, mas não pela morte da pessoa em si (eu nem a conhecia pessoalmente), e penso que também não captei dos outros (não havia quase ninguém a chorar). As pessoas à minha volta falavam na morte "aparecer" de repente, era isso que eu estava a ver, e a morte era a pior coisa para mim (na altura), eu não queria morrer, e depois pus-me a imaginar quando seriam os meus pais ou eu. Mas foi passageiro, passados poucos minutos acalmei de vez. Depois disso, já adolescente, bem como adulta, fico perfeitamente calma (e nada triste) quando me falam de mortes ou vou a funerais, mesmo quando morrem membros da minha família com quem me relaciono, e nem vendo, por exemplo, os meus primos a chorar por isso eu me sinto mal. 
Existem testes que medem os dois tipos de empatia e discriminam as suas respectivas componentes, mas os questionários podem ser baseados em respostas a situações da vida real que podem não ter a ver com empatia. Eu, por exemplo, por curiosidade fiz um teste de empatia online exactamente assim. No meu caso, deu-me tudo (excepto a capacidade de adoptar perspectivas, se não estou em erro) abaixo da média em mulheres, embora o que tivesse a ver com empatia cognitiva e "personal distress", que se referia à capacidade do próprio de se sentir emocionalmente incomodado com o sofrimento dos outro estivesse mais próximo da média do que a parte dos sentimentos de compaixão. Mas a parte do incómodo emocional estava, na minha opinião, muito mal justificada. Neste teste, relacionaram isso com a resposta a emergências e situações emocionais, mas na parte das emergências, por exemplo, eu já fiquei moderadamente stressada por não saber o que fazer para me desenvencilhar da situação (uma certa desorientação de curta duração) ou por ficar frustrada (e até chateada) com a resposta por parte de outros, não por causa do sofrimento deles (aconteceu numa emergência psiquiátrica). Mas outras vezes em que nada disso se proporcionou, eu calmamente telefonei ao 112, sem qualquer desconforto psicológico. Portanto, nessa resposta, querendo ser sincera, eu não podia afirmar que ficar ansiosa não se aplicava a mim. Também não se aplica de um modo geral, mas pode acontecer, só que, normalmente, não por causa do sofrimento de outros. Provavelmente é por isso que se recomenda uma consulta com um profissional para fazer esses testes, em que se pode falar com o psicólogo ou psiquiatra que nos está a acompanhar. 
Em termos clínicos estudos têm revelado que o défice de empatia está associado a transtornos do espectro autista (embora em alguns casos, o problema esteja apenas na empatia cognitiva), incluindo síndrome de Asperger (em que estudos revelam défice de empatia cognitiva e, em alguns casos, também um défice de empatia emocional (4,5)), assim como a vários transtornos de personalidade: esquizotípico, esquizóide, obsessivo-compulsivo, possivelmente a pelo menos alguns subtipos de transtorno paranóide, um subtipo de transtorno melancólico (com componentes de narcisismo) e um subtipo de transtorno negativista (com componentes de sadismo), sádico (em vez de se sentirem incomodados, sentem-se psicologicamente recompensados (13)), narcisista, psicopatia/ sociopatia (TPAS) - empatia emocional diminuída em todos, incluindo, provavelmente, em pelo menos alguns subtipos de esquizotípicos, e em pacientes esquizoides, relativamente à compaixão/preocupação com os outros. No caso de pacientes esquizotípicos, na componente do incómodo psicológico (emocional) mostraram-se mais sensíveis num estudo realizado em estudantes universitários (6,7,8,15, 16, 18). No caso dos pacientes com psicopatia e narcisismo (mas não no mesmo extremo), as emoções são superficiais, as relações amorosas transitórias e não sentem a separação e a perda quando a relação termina com a intensidade de um indivíduo dito "normal". Os psicopatas têm défice emocional, nos casos mais graves elevado ao extremo. Um estudo sugere que os criminosos violentos psicopatas são mais sádicos do que os não-psicopatas (14). No caso de pacientes com borderline, o problema reside na empatia cognitiva, no entanto, perdidos nos seus próprios tornados emocionais, acabam por não se servir das suas capacidades empáticas naturais, e, quando sob pressão, a sua instabilidade psicológica pode levar a que, na opinião de profissionais que trabalharam com estes pacientes, se transformem temporariamente em autênticos psicopatas (9) (actualização: em pacientes com transtorno bipolar acontece algo de semelhante na fase maníaca, que pode levar a que seja confundido com narcisismo patológico(17)). Mais do que um destes transtornos de personalidade pode coexistir na mesma pessoa, ou um paciente com um transtorno de personalidade apresentar algumas características de outro transtorno de personalidade (ex.: psicopatia e narcisismo; Narcisista com características antisociais (psicopáticas); Esquizoide com características/tendências psicopáticas). Por vezes ouço dizer que um psicopata tem défice moral, o que poderá não estar de todo errado. Quando se chega ao ponto de sentir a dor emocional dos outros, isso pode despoletar sentimentos de culpa, injustiça e até de raiva, o que aponta para que a capacidade de sentir empatia para com os outros esteja na base do comportamento moral (10), isso e a necessidade de viver numa sociedade onde todos se roubam e matam um aos outros, que acaba por não beneficiar ninguém. Os criacionistas (mais ainda do que outros religiosos) não conseguem ver como pode existir moral sem deus e acham que para justificar a existência de normas morais universais é preciso acreditar em deus. Mas isso está errado. Basta ver a necessidade de as ter e reconhecer uma possível origem evolutiva. E não há normas nem nada definido universalmente. Não são precisos sequer ensinamentos religiosos (embora possam ajudar) para não destruirmos a vida do vizinho do lado e participarmos em acções de entreajuda - para isso basta empatia - ou mesmo o simples facto de não se querer arranjar problemas, e a vontade de se integrar. Pergunto-me se eles (além de não perceberem nada do assunto) não terão também um défice de empatia, sobretudo emocional (neste aspecto não me posso gabar, só dizer que não é necessariamente um defeito).  
Agora, uma curiosidade clínica: em ambiente controlado, até psicopatas criminosos sentiram empatia (emocional) quando os orientaram para tentar imaginar como seria ser aquela pessoa (que estava a sofrer) nas imagens que eles viam, o que pode abrir caminho para a reabilitação (11,12). 

Referências: 

1. 
J Child Psychol Psychiatry. Aug 2013; 54(8): 900–910., Mar 12, 2013. doi: 10.1111/jcpp.12063, "Empathic responsiveness in amygdala and anterior cingulate cortex in youths with psychopathic traits", Abigail A. MarshElizabeth C. FingerKatherine A. FowlerChristopher J. Adalio,4 Ilana T.N. Jurkowitz,5 Julia C. SchechterDaniel S. PineJean Decety, and R. J. R. Blair
( disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23488588)

2. "Empathy in mice: role of amigdala, Ínsula and anterior cingulate cortex in the modulation of nociceptive responses", Azair Liane Matos do Canto de Souza (disponível em: http://www.bv.fapesp.br/en/bolsas/140803/empathy-in-mice-role-of-amigdala-insula-and-anterior-cingulate-cortex-in-the-modulation-of-nocicepti/)

3. Rogers K, Dziobek I, Hassenstab J, Wolf OT, Convit A (Apr 2007). "Who cares? Revisiting empathy in Asperger syndrome". J Autism Dev Disord 37 (4): 709–15. doi:10.1007/s10803-006-0197-8. PMID 16906462.


4. Neurocase: The Neural Basis of Cognition, Volume 8, Issue 3, 2002 - Empathy Deficits in Asperger Syndrome: a Cognitive Profile (Abstract) (disponível em: http://www.tandfonline.com/doi/citedby/10.1093/neucas/8.3.245#tabModule)   

5. Rogers K, Dziobek I, Hassenstab J, Wolf OT, Convit A (Apr 2007). "Who cares? Revisiting empathy in Asperger syndrome". J Autism Dev Disord 37 (4): 709–15. doi:10.1007/s10803-006-0197-8. PMID 16906462.

6. Differences in Empathy Between High and Low Schizotypal College Students, Spencer McCauley, 4-1-2013, Trinity College Digital Repository   

7. Hare, R. D. (1991). The Hare Psychopathy Checklist-Revised. Toronto: Multi Health Systems.

8. "Lack of empathy in patients with narcissistic personality disorder", K. Ritter et al., Psychiatry Research 187 (2011) 241–247 (disponível em: http://www.sakkyndig.com/psykologi/artvit/ritter2011.pdf)



9. "The Borderline Personality as Transient Sociopath", Steve Becker, March 27, 2008 (disponível em: http://www.lovefraud.com/2008/03/27/the-borderline-personality-as-transient-sociopath/)

10. Hoffman, Martin L. (1990). "Empathy and justice motivation". Motivation and Emotion 14 (2): 151.doi:10.1007/BF00991641


11. “Both of Us Disgusted in My Insula”: Mirror Neuron Theory and Emotional Empathy, Ruth Leys (Johns Hopkins University), March 18, 2012 (disponível em: http://nonsite.org/article/%E2%80%9Cboth-of-us-disgusted-in-my-insula%E2%80%9D-mirror-neuron-theory-and-emotional-empathy)  

12. "Psychopathic criminals have empathy switch", Melissa Hogenboom, BBC News, 25 July 2013 (disponível em: http://www.bbc.com/news/science-environment-23431793)   


13. Decety, J., Michalska, K. J., Akitsuki, Y., & Lahey, B. B. (2009). Atypical empathic responses in adolescents with aggressive conduct disorder: A functional MRI investigation. Biological Psychology, 80, 203-211.

14. Sadism and psychopathy in violent and sexually violent offenders, S. E. Holt, J. R. Meloy, S. Strack, J Am Acad Psychiatry Law. 1999; 27(1): 23–32. (resumo disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10212024)

15. Millon, Theodore, "Personality Subtypes" (Institute for advanced studies in personology and psychopathology - disponível em: http://millon.net/taxonomy/summary.htm)

16. Eur Arch Psychiatry Clin Neurosci. 2013 Sep 11, "Fluid intelligence and empathy in association with personality disorder trait-scores: exploring the link", Hengartner MP, Ajdacic-Gross V, Rodgers S, Müller M, Haker H, Rössler W (disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24022591)  

17. Stormberg, D., Roningstam, E., Gunderson, J., & Tohen, M. (1998) Pathological Narcissism in Bipolar Disorder Patients. Journal of Personality Disorders, 12, 179-185 (disponível aqui: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Pathological+Narcissism+in+Bipolar+Disorder+Patients.+Journal+of+Personality+Disorders)

18. "Does Obsessive-Compulsive Personality Disorder Belong Within the Obsessive-Compulsive Spectrum?", Naomi A. Fineberg et al, CNS Spectr. 2007;12(6):467-474,477-482 (disponível em: http://www.cnsspectrums.com/aspx/articledetail.aspx?articleid=1091)

Actualização - Nota: Um teste de empatia que melhor indica os níveis de empatia emocional, nomeadamente no que se relaciona com o incómodo emocional (que eu também experimentei, e confirmou as minhas suspeitas de que o nível que me deu o outro teste estava aumentado) é indicado na referência 6.





  

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Outra vez o ENCODE (e o "código")

Os criacionistas não largam os resultados do ENCODE, nem com tudo o saiu depois sobre esse assunto a assegurar que nada estava garantido. No "Darwinismo", o Mats (e os criacionistas do Discovery Institute que ele cita (1))  continua a teimar nesses resultados e que os cientistas em geral não os aceitam porque, sobretudo, são "evolucionistas". Eu indiquei, então, que nada estava garantido, que a definição estava no mínimo incompleta à luz da bioquímica e era inútil, apontei um artigo e um texto meu sobre o assunto, ao que um criacionista respondeu, com uma carga de arrogância (que não tem qualquer razão de ser, porque não passa de um ignorante). Claro que uma das coisas com que ele se distraiu do fundamental foi, claro, o "código". Algumas citações e as minhas observações (2):  
«Que isso? (sic) Entretenimento … Science up Comedy ?» Vindo de uma pessoa que nunca deve ter tido uma aula de biologia na faculdade... ou de qualquer outra coisa, já agora.  
«É verdade não HÁ CÓDIGO (...) O que o wiki diz sobre codigo genético? (...)» - Sabe perfeitamente o que eu quero dizer. Não faz sentido dizer que que é um código (não no sentido de precisar de inteligência. Um código a sério é o código Morse, por exemplo, que precisa de inteligência para ser interpretado) porque não há ninguém (ninguém inteligente) para estabelecer semântica a meio do processo que ocorre na célula. São só reacções químicas (e eu já expliquei isto antes, de várias formas). E em vez de ler a parte mais importante para o tema, perde-se em pormenores pouco relevantes.
«Uma maneira de inferir funcionalidade generalizada, apesar de não se ter conhecimento da função precisa, é notar que todo o genoma, ao contrário do pressuposto darwinista, está sujeito a várias camadas de reparo do DNA (ou seja, por que o celular tão ciosamente protege tanto lixo, peso morto?)» - A cometer o mesmo erro do ENCODE. Lá por ocorrerem certas reacções de reparação não quer dizer sequer que essa parte do DNA é transcrito, quanto mais que produz algo importante para o organismo.

Actualização: os criacionistas contra-atacam. 

Estava à espera de mais uma dose de ignorância e má vontade, e mais uma vez o observado corresponde ao esperado.
Do Mats (com as minhas observações):
«A replicação genética só é possível porque há inteligência embutida no ADN que permite o corpo biológico interpretar o significado do original e fazer uma cópia idêntica.» – Não há inteligência nenhuma embutida no DNA, o que há é uma série de reacções a partir do DNA, conforme a sequência de bases (que não tem obrigatoriamente uma origem inteligente.
«Além disso, o Projecto ENCODE é uma evidência óbvia que é preciso inteligência para entender o significado e a função das bases nitrogenadas (Adenina, Guanina, Citosina, Timina).» Se quer encontrar um paralelo, está a confundir alhos com bugalhos. Confunde a necessidade de inteligência para atribuir o significado (e para depois o interpretar, claro) para haver um código (como decidir que dois sinais, de luzes, por exemplo, com um sinal curto pelo meio significa SOS), com inteligência para compreender que certa cadeia de reacções dá um certo produto consoante a sequência de bases da molécula de onde parte.
«Mas a semântica é determinada ANTES da célula estar criada, por isso, o teu argumento é inválido.» «Não faz sentido dizer que é um código porque não há ninguém (ninguém inteligente) para estabelecer semântica a meio do processo que ocorre na célula.» – Devia ter dito “interpretar”, em vez de “estabelecer semântica”. E está certo, não dá para dizer que é um código da mesma maneira que o código Morse que precisa disso é um código (num sentido mais lato, talvez sim, talvez não). E é um código como o código Morse (ou até uma correspondência entre números e letras que se invente, por exemplo) que precisa (obrigatoriamente) de inteligência para existir e ser interpretado. De qualquer maneira se não fosse a má vontade do costume, teria dado para perceber no contexto. O sentido do código Morse também é estabelecido antes de qualquer interpretação. Mas não tem nada a ver uma coisa com a outra. De qualquer maneira toda esta questão do código ocupa tempo e espaço, mas não serve de nada. Sendo um código (num sentido lato), ou não, não interessa. Há imensos estudos sobre as origens que indicam que a primeira célula teve origem natural, e até o código genético.

O comentário que se seguiu (do Mats) demonstrou mais uma vez uma falta de compreensão sobre praticamente tudo o que lhe expliquei. Pode ser visto no "Darwinismo". A minha resposta: «”Se quer encontrar um paralelo,está a confundir alhos com bugalhos. Confunde a necessidade de inteligência para atribuir o significado” – Não se está a atribuir significado nenhum mas sim a usar termos humanos para entender uma linguagem biológica. Lembra-te: traduzir não é inventar significado.» Era por isso mesmo que lhe estava a dizer que não há paralelo. Quanto ao resto do seu comentário, parece-me que não percebeu (ou não quis perceber) nada do que lhe expliquei.
«Infelizmente, nenhum deles sobrevive ao escrutínio científico.» Aventar (ou inventar) sem indicar referências fiáveis - leia-se artigos com revisão de pares, não altera nada - os artigos, com as evidências e os processos propostos continuam lá. 
Esta conversa do código está já estafada, e é até bastante entediante (e algo frustrante) ao fim de algum tempo, pelo que fico por aqui.    

Do Jeph (o criacionista do costume):
«Pois é, eu sou um ignorante com a oportunidade de não ser arrogante e absorver muito informação sobre biologia de sistemas, genética, biomimética e etc…» Finalmente acertou em alguma coisa.
«E eu também por considerar o cérebro um design incrível, fico lendo sobre o cérebro e não é que eu descobri que a inteligência humana não pode ser explicada pelo tamanho do lobo frontal do cérebro?» Parabéns... Quer um prémio?
«ENCODE mediu a atividade biológica real. A diferença entre ENCODE e o estudo de Oxford é o fracasso de uma predição darwinista, não uma falha do ENCODE.» Apenas repete o que lê em sites criacionistas (sem bases para sequer perceber os argumentos pró e contra).
«“Não faz sentido dizer que é um código porque não há ninguém (ninguém inteligente) para estabelecer semântica a meio do processo que ocorre na célula. São só reacções químicas (e eu já expliquei isto antes, de várias formas)”» (voltou a citar a Wiki) - Para clarificação leia o meu comentário acima.

Ref.:

1. «Junk DNA: Darwinists Say They Are "Largely Free from Assumptions or Hypotheses"»,
Jonathan Wells July 30, 2014 (EnV, disponível em: http://www.evolutionnews.org/2014/07/junk_dna_darwin088361.html)


2. «Só 8,2% do cérebro dos evolucionistas é funcional», 05/08/2014, Mats ("Darwinismo", disponível em: http://darwinismo.wordpress.com/2014/08/05/10854/) - comentários   


sábado, 9 de agosto de 2014

Compatibilidade entre a teoria da evolução e deus – Não faz sentido (Cont.)

A parte do desejo de deus de ser venerado e notado (basta pesquisar sobre a Bíblia ou directamente na própria Bíblia) e de isso ser inconsistente com o uso de processos naturais para criar vida (relativamente a qualquer deus que queira ser venerado, não só o deus cristão passa despercebida aos que abordam um assunto em geral, pelo que me é dado a conhecer. Por exemplo, num longo (e algo entediante) texto (1), a autora Greta Christina, comenta o tema do evolucionismo teísta e do design inteligente (versão Michael Behe), que têm bastante em comum, só que os evolucionistas teístas convencionais afirmam que não se pode distinguir a acção divina, escapando ao teste – mas devia haver evidências para ser coerente com o deus em causa. Ela aborda o problema da crueldade no processo evolutivo (se foi deus a utilizá-lo), aborda o mais óbvio, que é a falta de evidências – em ciência, sem evidências, não temos como aceitar uma hipótese, mas passa ao lado do mais importante: devia haver evidências se deus quer ser venerado e notado, e usar o processo evolutivo natural não é uma boa forma de o conseguir – e não há, de facto, evidências. Deus (o deus cristão, neste caso, e possivelmente a versão muçulmana, Alá), é uma personagem que parece forçar-se a ser “boa” e justa, ou por dar essa aparência (mais provavelmente esta última) – o que também não é compatível com o rasto de destruição bem perceptível do processo evolutivo. No entanto, as tendências narcisistas são evidentes e precisa de ser adorado, venerado, e notado (enviou o seu filho e revelou-se ao longo da Bíblia, ou seja, assim crêem os cristãos). Para quê usar este processo que é tudo menos notável, e não deixa evidências? Segundo os cristãos, nos tempos bíblicos não era assim tão tímido, pois não? Não faz sentido, não é coerente com o deus da Bíblia, nem seria inteligente. Nem faz sentido as pessoas não repararem nisto.
Para terminar: «Claims that a god operates in the natural world (...) lack evidence in support. They make no predictions. They guide no hypotheses. They add nothing to any explanations of the natural world. They are contradicted by an absence of evidence.», P.Z. Myers (Pharyngula


Ref.:        


sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Mais baboseiras do William Dembski

Num texto já antigo (2005) no "Uncommon descent"(1), o William Dembski responde a um dos seus muitos críticos, o biólogo H. Allen Orr, da seguinte forma:
«Orr tries to get around the force of displacement by remarking that the NFL theorems don’t hold in the case of co-evolution (fitness landscapes that vary over time as organisms/population agents evolve). Actually, I dealt with co-evolution in section 4.10 of my book No Free Lunch (...). In his 2002 Boston Review critique of that book, Orr claimed that I hadn’t even addressed the issue of co-evolution when I had devoted a whole section to it. (...) the No Free Lunch theorem that I prove in my paper “Searching Large Spaces” does in fact hold for co-evolutionary scenarios, as does the displacement theorem that I prove there.» Será? Aquilo que o William Dembski diz não é de levar a sério, pela experiencia em casos anteriores (filtro para inferir design é um exemplo), mas não tendo encontrado nada sobre o assunto, deixo passar. Mais: «Orr now has a long history of suggesting that co-evolution is a magic bullet for evolving biological complexity. (...) What’s more, when we look to evolutionary algorithms within computer science, we find an interesting disanalogy with what Orr is hoping evolutionary processes can accomplish in actual living systems. Within evolutionary computing, fitness can change with time as circumstances change and more information becomes available. Accordingly, the objective function can, as it were, hop around. But (...) the objectve itself does not hop around. Orr is asking us to believe that co-evolution can work effectively by changing objectives (...), but we have no parallel to this in the field of evolutionary computing.» Não há paralelo a uma solução proposta, perfeitamente plausível no mundo real, em modelação computacional (evolutiva), e não há paralelo plausível no mundo real para um designer. Em que é que ficamos? É claro que um criacionista diria que isso não é problema porque se pode inferir design sem conhecer o designer. E eu gostava de saber, então, de (novas) propostas para inferir design. Para além do mais, acho que isso é fazer batota. Para o design ser pelo menos plausível, tem que haver um possível, e plausível designer. Os cristãos diriam: "deus" (bem, provavelmente gritariam histericamente: "Deus!!! Com D maiúsculo!"). Mas o problema é apenas este: evidências que deviam aparecer (deus quer ser adorado e tem traços de personalidade narcisista) e não aparecem. Hum... porque será?
Não há nada que torne a existência de deus mais plausível. E se for outro deus qualquer? Bem, a tradição hindu tem uma espécie de deus supremo, mas é panteísta, e os outros "deuses" são apenas espíritos através dos quais os hindus se relacionam com o seu deus (que não parece estar dissociado da natureza, ou pelo menos não é um deus pessoal) e, mais uma vez, zero evidências de que existem. E o deus do Islão, Alá? Evidências, nem pensar, já para não falar de que este método de andar a criar aos bocadinhos não é coerente com o que diz a Bíblia ou o Corão, nem com as crenças Hindus. Podem apelar à metáfora, mas quais as partes que são metáfora, então? Quanto muito é no mínimo subjectivo - "a criação divina em si não é metáfora, mas os seis dias de criação instantânea são" simplesmente não pega.  Provavelmente até foi uma história que alguém inventou para satisfazer a curiosidade dos mais novos, na qual passaram a acreditar, mas parece tudo menos uma metáfora ou alegoria para a criação divina do universo, pelo menos no sentido que certos teólogos e católicos pretendem. Um deus que quer ser venerado não podia arranjar uma maneira de se revelar, e de espalhar a sua palavra que gerasse menos confusão para se fazer acreditar? Sim, deus, pode brincar connosco, mas para quê? Para deixar de ser venerado mal a ciência entre em acção? Pouco inteligente para um designer inteligente, que criou o homem (inteligente, com capacidade para distinguir o "certo" do "errado", etc.) à sua imagem e semelhança.
Voltando ao William Dembski, penso que ele quer dizer que a ideia de Orr não é testável em termos de modelação, mas uma mera possibilidade. Mas se tivermos que escolher entre isso e um designer muito pouco plausível na realidade, devemos ficar com a primeira hipótese, não a tendo como garantida. Além disso, observando atentamente as estruturas que têm sido propostas pelos criacionistas versão design inteligente, os cientistas concluíram que não havia nada que não fosse de esperar pelos processos evolutivos moleculares do costume (partes cooptadas, partes semelhantes, isto é, duplicadas, etc.)  ainda que não se tenha uma descrição mutação a mutação com o respectivo valor selectivo. Pergunto-me se alguma destas observações tão óbvias trará alguma dissonância cognitiva ao Dembski. Talvez tenha aprendido a ignorá-las. Numa só frase: Muita treta vai na cabeça de muitos cristãos, incluindo e sobretudo na do William Dembski.      

Ref.:

1. Allen Orr in the New Yorker - A Response, 28/5/2005, William A. Dembski (Disponível em: http://www.uncommondescent.com/evolution/allen-orr-in-the-new-yorker-a-brief-response/