terça-feira, 1 de julho de 2014

Evolução, informação, criacionismo e uma grande confusão

Os criacionistas voltaram à carga com a diminuição/ aumento de informação, no blog do Mats/Lucas ("Darwinismo"). No texto "Dez falhas na teoria da evolução", o Mats escreve (traduz) o seguinte: «3. Ao contrário do que defendem os evolucionistas, as mutações não aumentam a informação.», ao que outro criacionista respondeu num comentário: «Trecho: Incrivelmente, foi mostrado que a informação não aumenta nas regiões codificantes do DNA com a evolução. O que os documentos acima mostram é que nem mesmo a variação da duplicação produz novas informações, nem mesmo “informação” Shannon. – http://www.bioscience.org/fbs/getfile.php?FileName=/2009/v14/af/3426/3426.pdf.» Depois, ele continua, apresentando uns valores probabilísticos estranhos (e muito baixos), sem qualquer justificação, cálculos, clarificação ou contexto: «O biofísico Hubert Yockey determinou que a seleção natural teria que explorar 1,40 x 10 ^ 70 códigos genéticos diferentes para descobrir o código genético universal ideal que é encontrado na natureza. O montante máximo de tempo disponível para que se originassem é 6.3 x 10 ^ de 15 segundos.» Sempre gostava de ver esses cálculos. E exactamente a que se referem no original (selecção natural?). 
Relativamente ao que o Mats escreveu, e o comentador "Jephsimple" tentou apoiar com um artigo, é treta e já foi abordado anteriormente. Quanto ao artigo em si, fiquei curiosa, mas quando vi o nome do autor desconfiei. David Abel é (muito provavelmente) um criacionista do design inteligente, não é biólogo, nem parece ter qualquer tipo de formação na área, nem sequer em ciência, pois é do tipo que apenas afirma (sem demonstrar) nos artigos que escreve (1). Portanto, diz um criacionista para o outro. De sobreaviso, resolvi consultar os artigos citados pelo autor (ou, pelo menos, os resumos). Aqui está um trecho: «Although bacteria increase their DNA content through horizontal transfer and gene duplication, their genomes remain small and, in particular, lack nonfunctional sequences. (…) When selection is not strong enough to maintain them, genes are lost in large deletions or inactivated and subsequently eroded.» (ref. 65) Há maneiras de perder genes e ganhar genes (informação genética). Nada que diga que a duplicação (mais mutações) não aumenta a informação e não cria novos genes (pelo contrário), só que enquanto uns se criam, outros podem perder-se. Para a teoria funcionar, não é preciso que seja sempre a aumentar e nunca a desaparecer. No nosso genoma, por exemplo, encontramos genes truncados (a que faltam bocados e já não produzem proteínas). É normal. Não é necessário nenhum designer por causa disso.
Outro artigo citado (ref. 71) sobre o aumento da informação (Shannon) com a evolução, (do qual também só consegui o resumo) parece não ter nada a ver com a teoria da evolução em si, mas com a origem da vida. Outro ainda, sobre o mesmo assunto, do qual não consegui encontrar nem o resumo data de 1984. Porque será que não arranjaram nada mais actual? Mesmo assim, um artigo bem mais recente mostra-nos que a informação (Shannon) aumenta quando aplicada a selecção (natural) (2). Eu comentei também no "Darwinismo", mas duvido que os criacionistas percebam a confusão que fizeram (de propósito?).

Referências:

1. http://freethoughtblogs.com/pharyngula/2012/02/02/more-bad-science-in-the-literature/

2. http://nar.oxfordjournals.org/content/28/14/2794.full.pdf+html


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