sábado, 12 de outubro de 2013

Previsões da Teoria da Evolução vs (não-) previsões do criacionismo

Os cientistas estudaram as origens de certas estruturas biológicas (incluindo as propostas pelos criacionistas do D.I.) e descobriram que estas evoluíram via mutações e selecção. Não foram encontradas quaisquer evidências de design inteligente quando os cientistas aprofundaram o assunto, mas sim as marcas de um processo evolutivo cheio de duplicações genéticas e intra-genéticas (por exemplo, no caso da ATPSintase (1, 2)), exaptação e mutações pontuais que ocorreram aleatoriamente, em tudo semelhantes às que se vêem ocorrer actualmente (inclusivamente em laboratório).  Michael Behe por exemplo, propôs que um deus/designer tem que ter feito certos conjuntos de mutações que na sua opinião não podiam ter ocorrido naturalmente, isto é, esse deus é estritamente necessário para explicar as observações. No entanto os cientistas refutaram isso recorrendo à teoria neutra.
Pensando um pouco, pode-se perceber que a hipótese do design inteligente não explica nada (como já referi anteriormente). Não explica o padrão de semelhanças e diferenças que vemos nos seres vivos nem entre os genes dentro do mesmo ser vivo, nem sequer explica como o designer concebeu as estruturas em questão. Por outro lado a teoria da evolução explica isso tudo (menos a parte do designer, porque este não entra em cena) e faz previsões acerca do assunto. Por exemplo, a evolução só "trabalha" com o que lá está, pelo que era de prever que muitas das proteínas fossem semelhantes entre si, incluindo proteínas derivadas do mesmo genoma (com os genes também semelhantes). Os criacionistas do design inteligente deviam ter pelo menos tentado propor uma previsão (que permita fazer uma distinção) relativamente a isso para ser testada. A única previsão séria da qual eu tenho conhecimento é que a maioria do genoma humano seria funcional (benéfico para o sucesso reprodutivo do organismo). E essa também não se aguentou. Só o facto de tolerarmos a enorme carga de mutações que ocorre de geração para geração é uma evidência de que há lixo no genoma.
Agora parece que o pessoal do Discovery Institute quer começar a fugir ao escrutínio dando a entender que não se pode distinguir se as semelhanças moleculares são devidas ao design ou à ancestralidade comum e que não podemos dizer que não foi deus que fez as mutações, porque não conseguimos distinguir uma hipótese da outra (b). Mais uma vez: aquilo que não se pode testar vai para o lixo. E mais uma vez: passámos de “não pode ter evoluído” para “imita processos naturais, por isso não pode ser desmentido”.

Notas:
  1. Eu sei que nalgumas partes repito coisas que já disse noutros textos, mas isso serviu para contextualizar. O importante é o leitor focar-se nas previsões da teoria da teoria da evolução e nas previsões que os criacionistas do D.I. fizeram e não fizeram.
  2.  Pode ser conferido no “Evolution News and Views” (aqui: http://www.evolutionnews.org/2011/06/following_the_evidence_where_i047161.html e aqui: http://www.evolutionnews.org/2011/03/science_article_acknowledges_c045221.html)

Referências:

1. Zh Evol Biokhim Fiziol. 2007 Sep-Oct;43(5):391-7. - Evolutonary modifications of molecular structure of ATP-synthase gamma-subunit, Ponomarenko SV. (disponível aqui: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18038634)
2. Gene. 2006 Apr 26;371(2):224-33. Epub 2006 Feb 7. - Evolution of ATP synthase subunit c and cytochrome c gene families in selected Metazoan classes, De Grassi, A., Saccone, C. et al.

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