domingo, 13 de outubro de 2013

(Des)complicando a ciência (parte II)

Semelhanças e diferenças: sequência vs função vs morfologia

Como já tenho dito anteriormente, não é obrigatória a mesma sequência (genética ou de aminoácidos numa proteína) para que uma função semelhante seja desempenhada. Algumas pessoas podem ver isto desta maneira: quando têm a mesma sequência e a mesma função, isso é produto da evolução, mas quando o contrário acontece, também é produto da evolução. Assim, a teoria acomoda dois cenários mutuamente exclusivos.
Uma explicação muito simples é que não são mutuamente exclusivos e não há nada de errado relativamente á teoria da evolução: esta não prevê nem um nem outro na generalidade, mas nenhum entra em choque com a teoria, sendo que o facto de não ser necessária a semelhança sequencial para funções semelhantes é favorável ao uso da evidência molecular como apoio.
Muitos críticos religiosos da teoria da evolução têm afirmado que no que respeita á morfologia, ao nível genético as semelhanças morfológicas não seguem - genes idênticos codificam estruturas distintas, e estruturas idênticas são codificadas por genes distintos. Mesmo se isso corresponder á realidade, não têm que seguir. A parte molecular pode ser preservada semelhante, mas mudarem as estruturas e os genes sofrem mutações, portanto é normal que passem a originar estruturas diferentes ao longo do tempo. 

Padrão genealógico e fósseis de transição

A teoria da evolução é evidenciada pelo padrão genealógico total incluindo os fósseis, dos quais se destacam os fosseis de transição. Mas os criacionistas usam e abusam de apresentar citações fora do contexto (“quote mining”) e depois enganam os crédulos e um exemplo disso é espalharem pelo mundo fora (através da internet) que o Dr. Colin Patterson do Museu Britânico afirmou que não existem fósseis de transição. Isso é uma mentira que os criacionistas andam a espalhar desde os anos 80. Os fósseis aos quais se referia o Dr. Patterson eram os ancestrais directos e não os fósseis de transição (1).
Para mim foi difícil de acreditar quando li a data em que expressão que os criacionistas costumam citar foi redigida (numa carta), pois actualmente esta ainda é usada pelos criacionistas e originalmente foi escrita em Abril de 1979 e depois começou a “circular”, sobretudo através de uma compilação de citações fora do contexto redigida por criacionistas que foi publicada nos anos 80 e mais tarde em 1990.


Referências:

  1. «Patterson Misquoted», Lionel Theunissen, 1997 (disponível aqui: http://www.talkorigins.org/faqs/patterson.html) *

 *Nota: Pode ser visualizada uma digitalização da carta original do Dr. Colin Patterson, assinada pelo mesmo, a clarificar o ocorrido através do endereço da referência. 

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